OLINGUITO: O Bichinho da Neblina

Cientistas descobrem uma nova espécie de animal que vive nas florestas da Colômbia e do Equador, o primeiro mamífero carnívoro encontrado na América em 35 anos

Anualmente, cerca de 15 000 novas espécies animais são encontradas e registradas. Em sua maioria, são insetos e aracnídeos. A descoberta de mamíferos é mais rara, com média de duas dezenas por ano. São principalmente morcegos e ratos pequenos. Vez ou outra, um animal maior é descoberto. Na semana passada, foi a vez do olinguito, um bichinho simpático que parece um guaxinim com o rosto de um ursinho de pelúcia. Ele é o primeiro mamífero da ordem dos carnívoros a ser encontrado na América nos últimos 35 anos. Foi descoberto por um time de pesquisadores liderados pelo zoológo americano Kristofer Helgen - um especialista em procurar novas espécies que já registrou mais de 25 animais.

A busca pelo olinguito começou em 2003, quando Helgen viu alguns crânios e peles que não conseguia reconhecer numa exposição científica em Chicago. Desde então, passou a pesquisar a que animal pertenciam. Depois de analisar material semelhante em diversas instituições de zoologia, deu o primeiro passo para localizar a origem geográfica do animal. Com uma técnica que usa indícios de crânios, ossos e peles, deduziu o tipo de ambiente no qual viveria. O local provável era a América do Sul, mais precisamente a região andina do Equador e da Colômbia. O trabalho de campo começou no Equador, onde os pesquisadores encontraram e capturaram exemplares. Já de volta aos Estados Unidos, a teoria de que aquela era uma nova espécie foi confirmada graças a análises de DNA.

O olinguito mede em média 76 centímetros do nariz à cauda. Em geral, pesa pouco menos de 1 quilo. É solitário e tem apenas um filhote por vez. Vive na copa das árvores e se movimenta durante a noite. Esses hábitos podem ter contribuído para a demora dos cientistas em catalogá-lo. Outro fato foi a presença persistente de neblina nas florestas onde o animal habita, o que dificulta a visão do topo das árvores. Isso inspirou seu nome científico, Bassaricyon neblina. Apesar de fazer parte da ordem dos carnívoros, o olinguito se alimenta de frutas e outros vegetais. Explicou a VEJA a bióloga Mirian Tsuchiya, integrante do time que descobriu o animal: "A ordem dos carnívoros é apenas uma classificação, não significa que sua dieta seja carnívora. Outro exemplo parecido com o olinguito é o urso panda. Ele também é da ordem dos carnívoros, mas não come carne".

O olinguito já foi confundido com outra espécie parecida, o olingo, que é maior, com pelagem rala e focinho mais alongado. As duas espécies compartilham 90% do genes. A demora para catalogar o olinguito pode sugerir que ele seja raro na natureza. Os cientistas que fizeram a descoberta, no entanto, não acreditam que esses animais estejam sob risco de extinção, embora quase metade das florestas onde eles vivem já tenha sido devastada para a agricultura e a plantação de coca para a produção de drogas, ou em consequência da urbanização.

VICTOR CAPUTO


Fonte: Revista Veja, Editora Abril, edição 2335 - ano 46 - n° 34, 21 de agosto de 2003, p. 88
  

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